Por via do Mesa marcada, fui dar com um caso aparentemente trivial mas instrutivo, até a merecer artigo desenvolvido no Guardian. Um jovem gastrónomo amador (se é que há gastrónomos profissionais), James Isherwood, criou um blogue, “Dining with James”, que ainda só vai numa dúzia de entradas, com a sua apreciação crítica de restaurantes a que vai.
Foi ao Hibiscus e criticou-o. Este restaurante londrino, como muitos saberão, é famoso, tem uma estrela Michelin e a sua cozinha é da responsabilidade de Claude Bosi (ver a sua biografia no sítio do restaurante). Nunca lá fui, mas até acho que os seus menus não me atraem muito.
O pobre do James julgou que tinha o direito de criticar o restaurante. Se calhar, não tem grande experiência e qualificações para o fazer, mas isto é coisa que não pode limitar a sua liberdade. Cabe aos seus leitores avaliarem as suas capacidades e confiarem ou não nas suas críticas. É a minha atitude, quando escrevo comentários sobre restaurantes em que comi bem – e gosto muito de os escrever – ou, infelizmente, comi mal.
Mas o que é que se passou de bizarro neste caso? O blogue era pouco conhecido, podia continuar assim. Simplesmente, Claude Bosi fez a burrice de lançar toda uma campanha no twitter a desfazer o jovem James, no que foi acompanhado clubisticamente por outros chefes. Uma coisa que poucos tinham lido transformou-se num caso de sucesso. O artigo do Guardian que referi acima dá uma boa descrição.
Há coisas no mundo da alta cozinha (não creio que em Londres um chefe só com uma estrela seja obrigatoriamente alta cozinha) que cheiram que enjoam a primadonismo, a excessos de delicadezas (como diria a minha avó), a suscetibilidades, a invejas mesquinhas, a atitudes de arrogância intransigente e vaidosa. Sensibilidades de artistas!
Há tempos, pus “online” uma coletânea de receitas minhas. Um profissional de alta qualidade escreveu-me simpaticamente, a agradecer, dizendo que tinha sempre qualquer coisa a aprender com amadores de bom nível. Tanto quanto o conheço, sei que estava a ser sincero.
A reação do Sr. Bosi parece significar a ideia que ele tem de que quem vai ao seu restaurante deve ir com a atitude de grande humildade de quem merece o favor especial de ser servido pelo chefe, deve obrigatoriamente deslumbrar-se, deve pensar que o que está a comer é uma espécie de teto da Capela Sixtina que precisa de séculos para ser devidamente reconhecido.
Como escreve o articulista do Guardian, " Why on earth do chefs think that I, as a paying customer want my expensive evening out to be sullied with a confrontation with an overbearing chef? It's utter arrogance. The interesting thing here is that Bosi assumed that a paying guest wanted the respect of the chef rather than a nice dinner. And that says it all."
Como escreve o articulista do Guardian, " Why on earth do chefs think that I, as a paying customer want my expensive evening out to be sullied with a confrontation with an overbearing chef? It's utter arrogance. The interesting thing here is that Bosi assumed that a paying guest wanted the respect of the chef rather than a nice dinner. And that says it all."
Porque raio de carga de água um tipo que é chefe (do pessoal) da cozinha hâ-de querer ser também chefe dos clientes e dos seus paladarés?
ResponderEliminarDevo ser muito burro porque não entendo.
Mesmo que o tipo vá (malcriadamente) de boina de fugideiro para a mesa.