terça-feira, 27 de agosto de 2013

Oh, coisas simples mas tão boas!

Tendo falado de funge cozinhado para um jantar angolano, há mais alguma coisa a dizer, primeiro quanto ao enquadramento, depois quanto a relações Açores-Angola. Foi jantar caseiro, ocasião privada mas, apesar de ser boa norma na net termos sempre presente que “nobody gives a shit for what you had for breakfast today”, há ocasiões especiais.

O júnior (já não tanto como isso) da minha morena veio de Harvard, a férias, com nada menos do que 10 amigo(a)s. Deixou a nosso cargo um jantar de acolhimento, sem prejuízo de se ter esmerado na recepção aos amigos e fazê-los sentirem-se bem ao jantar. Com os amigos, eles, mãe e eu, avós, éramos 16, dimensão já de restaurante, a que valeu a enorme descontracção – mas muito educada – dos seus amigos americanos, que se instalaram por tudo onde era cadeira ou banco, até à volta do meu fogão na mesa central da cozinha. 

O pedido foi de cozinha angolana, ainda próxima dele, e sempre de excelente confecção pela mãe. Protestei: e então açoriana, já não valho nada? Falou-se logo no que toda a sua família gosta mais como meu petisco. Fiquei receoso: americanos a gostarem de polvo? Mais houvesse! Do lado da mãe, a sua muamba com funge, também outro sucesso. Dêem a um americano educado qualquer coisa a fugir da "fast food" e vão ver como ele aprecia.

A merecer destaque, duas coisas muito simples, ambas com base em amendoim e com relação com as minhas ilhas. Como um dos aperitivos, pasta para barrar, a quitaba angolana. É simplesmente manteiga de amendoim, a pasta cremosa obtida pisando bem o amendoim no pilão, hoje moendo bem com máquina de lâminas. Depois, só acrescentar piripiri (gindungo) a gosto. Mas também é a manteiga de amendoim (peanut butter, “pinabara”) tão cara aos emigrantes açorianos, que eles também por vezes temperam com “pimenta da terra”, a malagueta açoriana. Angolana e açoriano, encontros que a vida dá.

Entre outras sobremesas, uma coisa simplesmente deliciosa, a não permitir controlo de uma porção após outra, a paracuca angolana. Amendoim não torrado, açúcar e água, em partes iguais, muito bem mexidos ao lume até caramelizar, passados para um tabuleiro a arrefecer e a separar os grãos. Mas não é que nos Açores da minha meninice já eu me deliciava com os amendoins doces (ou de sobremesa), exactamente iguais? Ou também amêndoas, feitas da mesma forma. Como variante, gostava muito das amêndoas com chocolate da minha avó, de receita mais elaborada (quase uma página A4 escrita pela minha mãe), incluindo leite, chocolate e café, mais algum tempero. Estas ficam na minha reserva de coisas de família, agora para desafio de uma grande doceira que eu cá conheço.

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