sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Especialistas...

O Diário de Notícias, penso que numa cruzada de publicitação internacional dos nossos produtos gastronómicos, tem vindo a entrevistar pessoas que opinam sobre o que temos do melhor do mundo. Pensar-se-ia que fossem peritos com credibilidade nos mercados importadores, mas são tudo conversas em círculo paroquial. Tudo sai ridículo, asneira, tiro nos pés.
Há dias, quando vi pela primeira vez uma coisa destas, fiquei curioso. Quem conhecedor diria que o queijo da Serra é o melhor queijo do mundo? Qual é o critério da sua escala de classificação, só para uma pequena lista: Serra (esquecendo os nossos outros de ovelha), S. Jorge, Pico, queijo velho de S. Miguel (uma preciosidade que já se vende cá por toda a parte); Mancheco; Camembert, Roquefort, Pirinéus, "chèvre" pirâmide, Boursin, Córsega; Chedar; Gorgonzola; Gruyère, vacherin; etc., etc., e só para referir, da Europa ocidental, aqueles que fazem visita frequente ao meu frigorífico?

Ainda por cima, faz comparação com o Gruyère, um queijo “demasiadamente grande, tipo roda” (o que tem a ver o tamanho com a qualidade? Indo ao seu melhor do mundo, é melhor do que o Azeitão apesar do dobro do tamanho?). Mais, o Gruyère é queijo "sem saber a nada"! 

Espantoso. Ou o homem nunca comeu um bom Gruyère rótulo preto ou está a aldrabar, pelo menos para gosto - discutível - de quem como eu, põe esse queijo nos píncaros. Por isto, um bom conhecedor de queijos certamente apreciará um Serra/Azeitão/Serpa (eu vou primeiro pelo Serpa, questão de gosto, depois pelo Azeitão e só no fim pelo Serra), mas muito provavelmente saberá que, no gosto geral de queijos, o que vale mais em Portugal é um S. Jorge de grande nível: não o que por aí se vende, com raras exceções, mas sim um Topo ou Rosais de 7 meses de cura.
Mas, afinal, quem é esse perito? Acabei por descobrir: Jorge Coroado, árbitro de futebol.
Hoje, novo caso de patetice gastronómica, entre a ignorância e a desfaçatez. Agora foi o inefável Marinho (e!) Pinto. “Os vinhos portugueses são os melhores do mundo”. E até teoriza: tudo porque só Portugal combina a influência mediterrânica com a atlântica. Não quero dizer, obviamente, que não temos excelentes vinhos. Mas os melhores do mundo? E, ainda por cima, os muito bons que temos são em tão pequena produção - e de qualidade muito variável de ano para ano de forma a dar garantia ao mercado - que nunca pesarão significativamente na nossa balança de pagamentos.
Assim não vamos lá. Se tudo isto fosse só uma brincadeira ou concurso televisivo, lá vá. Mas desconfio de que é sinal da ligeireza de como, entre nós, “assim se fazem as cousas”. E mais, em termos da atitude para com a comunicação social: não há português que resista ao microfone, é o maior vibrador titilante do ego; e não há português que pense que falar para a comunicação social é hoje influenciar, mal ou bem, muitos e muitos milhares de pessoas, com a responsabilidade intelectual e social que isto devia logo questionar.

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