Claro que quem diz isto não está a falar dos restaurantes estrelados ou candidatos a tal. Essa é outra história, com muitos "ques" e "ses", muita flutuação de moda e de situação empresarial, relação preço/qualidade, a desafiar em tempo acelerado o tempo lento do apreciador que só lá vai de vez em quando. A topos de gama, eu ia de confiança ao Vale Flor, mas não garanto o que é hoje depois da saída de Barroyer. Ao Tavares ainda não fui, que os tempos estão de contenção. Segui a decadência do Eleven. Gostei de coisas do Aroldi, mas acho o S. Luís banal, até a “épater le bourgeois”. Ainda não fui ao Belcanto e depois direi o que acho do seu projeto Avillez, um dos meus chefes prediletos (principalmente pela sua cultura). Também ainda não fui aos “downgrading” de Sobral, em Campo de Ourique, depois direi. Fiquei com pena do fim do meu muito estimado “Vin rouge”, a minha "cantina" de almoço, mas rendo-me hoje ao “Assinatura”.
Quando amigos trocam informações de “come-se bem” falam principalmemnte do restaurante de esquina. Há outro caso, o dos que merecem uma centena de quilómetros de deslocação, como o Alice em Fátima, o Kottada no Carregado, o Dona Bia na Comporta e, máximo dos máximos, o Azinheirinha no Escoural. Mesmo duas centenas de quilómetros, como o Vallecula, em Valhelhas.
Aqui em Alfragide, meu bairro, meu pequeno “lebensraum”, é notável o Charrua, coisa de pai e filhos a servir, mãe e avó na cozinha. Televisão, toalhas de papel, pobre couvert “imaginativo” de manteigas, pastas industriais e azeitonas, mesas amontoadas, mas que cozinha da avó! Morena e eu, em norma de almoço de sábado, fazemos sempre evocação ritual de Adélia e Mariana.
Aqui em Alfragide, meu bairro, meu pequeno “lebensraum”, é notável o Charrua, coisa de pai e filhos a servir, mãe e avó na cozinha. Televisão, toalhas de papel, pobre couvert “imaginativo” de manteigas, pastas industriais e azeitonas, mesas amontoadas, mas que cozinha da avó! Morena e eu, em norma de almoço de sábado, fazemos sempre evocação ritual de Adélia e Mariana.
Por diferença, estando em casa estes dias por mudança que me lixa a coluna lombar - velho não se devia meter em aventuras juvenis por amorosas que sejam - fui a outro restaurante de esquina. Arroz de marisco. Desde logo, já adivinhava, este requinte de agora - consagrado nas 7 maravilhas - de um bom arroz de qualquer coisa ter de ser com arroz agulha. "É de melhor qualidade", ainda hoje me disse o dono! De mariscos, um camarão, dois mexilhões, umas tantas amêijoas vietnamitas e “delícias do mar” em fartura. De refogado só vestígios, tomate pouco, pimentão nada, ervas quase nada, a não ser um vestígio de salsa. 6,50 € não se pode dizer que seja muito caro, mas eu fazia muito melhor por menos.
Não quero crer que seja "nova cozinha de avó", deve ser coisa amodernaça. Mas o quê? Provavelmente boca de um amigo do dono ou familiar amador, ignorante bárbaro da cozinha. Isto parece-me um caso de transição temporária na nossa restauração de bairro (assim o espero). As pessoas não podem continuar tão pouco exigentes e os donos destes pequenos restaurantes deviam serr confrontados com um pouco mais de exigência. Não pode ser como me diz um "tasqueiro" sabedor, que consegue comprar umas magníficas amêijoas: "para si faço-as à Bulhão Pato e sei-as fazer bem. Mas se me pedem mostarda e muito piripiri no molho, o que hei de fazer? O cliente manda".
Com todo o artificilaismo que tem a caracterização genérica dos povos, diria que a principal marca dos portugueses é serem os piores e menos exigentes consumidores do mundo. Até estamos a consumir o "produto" da troika!
Estão a formar-se dezenas de diplomados em hotelaria/culinária. Muitos deles, menos credenciados para as altas cozinhas, deviam ser empregados por bons “restaurantes de bairro”. O contributo de qualidade que dariam seria inestimável e talvez não muito caro. Em tempos de crise, acrescentariam valor à nossa restauração, para turistas, fariam entrar divisas, reduziriam o défice da balança de pagamentos.
Com todo o artificilaismo que tem a caracterização genérica dos povos, diria que a principal marca dos portugueses é serem os piores e menos exigentes consumidores do mundo. Até estamos a consumir o "produto" da troika!
Estão a formar-se dezenas de diplomados em hotelaria/culinária. Muitos deles, menos credenciados para as altas cozinhas, deviam ser empregados por bons “restaurantes de bairro”. O contributo de qualidade que dariam seria inestimável e talvez não muito caro. Em tempos de crise, acrescentariam valor à nossa restauração, para turistas, fariam entrar divisas, reduziriam o défice da balança de pagamentos.
Mas também é aos donos do "restaurante de esquina", coitados, empresários semi-ignorantes, que compete pensar nisto? O que fazem os nossos organismos oficiais de turismo? Ou, desde já, as nossas câmaras? A história do pastel de nata do ministro Álvaro é confrangedora; o homem não conseguiu ir buscar conselho a quem saiba a sério do que é a gastronomia como marca de exportação (considerando como exportação - economia básica - o consumo local dos turistas).
Assim, quando um meu velho amigo francês cá vier e me disser “on y mange très bien”, já sei o que ele quer dizer e passo recomendação sem receio. Ele fará essa recomendação com o hábito enraizado de procurar, com exigência e bom gosto de bem comer, o bistrot super ou o grande restaurante de estrada (já lá vai o tempo em que me valia a pena parar na estrada, para almoçar, onde visse muitos camiões estacionados).
NOTA - Já alguma vez viram a diferença da classificação Michelin com base em estrelas e em garfos? Eu vou sempre por esta última.
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