Há um défice grande de qualidade, ou de relação qualidade-preço, numa grande camada intermédia dos nossos restaurantes. Muito bons, de cozinha de autor, mas bem caros, temos bastantes e muito recomendáveis. Não falo só dos de luxo e estrelados, falo de todos os que servem cozinha de autor. Por vezes, em termos de preço, até com a vantagem de, em tempos de crise, oferecerem almoços de ementa fixa relativamente baratos e menus de degustação, tudo a preços que não são do quotidiano mas que não são exagero de luxo, mesmo em tempos de crise.
No outro extremo, restaurantes de bairro, atascados, toalha de papel, jogo de futebol na televisão, a típica travessa de alumínio, empregado de jeans e nenhum requinte no serviço, mas muitas vezes boa cozinha solidamente tradicional e apurada por cozinheiros com gosto pelo que fazem, também há muitos, felizmente. À minha volta há-os suficientes para serem o nosso almoço de sábado, sem ficarmos mal dispostos para o habitual esmero do jantar.
Pior são os restaurantes à moda, de 1ª (ainda não percebi como se classificam os restaurantes) em bairros novos de uma camada com relativa folga financeira e que vai por diz-se que é bom, por ementas aparentemente de "cozinha erudita", por um ambiente bonito, por um serviço com tiques de qualidade. Ainda estou por conhecer, em Lisboa, pelo menos uma dúzia que valha a pena.
Um dia destes, recomendaram-me um, em bairro de classe média-alta. Surpreendeu-me que não tivesse rodriguinhos; pareceu-me honesto, mesmo com o estilo geral de restaurante à moda, preto, prata e espelhos. A ementa até era muito simples, com boa raiz tradicional. Ementa curta, mas que por isso me valeu a experiência notável de quase tudo estar esgotado, às oito e meia da noite. Para entrada, duas coisas aconselhadas não havia: uns camarões da casa e amêijoas à Bulhão Pato. Desculpei, pensei que em relação aos primeiros deviam ser frescos e que, em ambos os casos, a culpa seria do mau tempo que tinha feito nesse dia e nos anteriores.
Pior foi já não haver o prato que me tinham recomendado como especialidade da casa: pastéis de bacalhau com arroz de tomate, "banalidade" de que gosto muito. Como é que se pode esgotar tal coisa? Percebi depois, olhando para a cozinha que, também à moda, era facilmente visível pelos clientes (não gosto, a não ser em tasca ou restaurante rústico). Afinal, o que faltava era o ou a cozinheira, deixando a cozinha, ao jantar, entregue a uma jovem aprendiz que se limitava a fazer sair uns grelhados simples e o único prato de tacho, só aquecer, umas favas que comi e que até não estavam nada más.
Faltou ao restaurante cozinheiro para todo o dia. Sinal da crise? Mas não pagámos pouco.
E, já agora, qual o restaurante?
ResponderEliminarNão sei se devo responder... Se fosse restaurante muito propagandeado, na moda, certamente que jogava a favor da identificação a defesa do consumidor. Neste caso, é um entre muitos ignotos, serviu-me só de exemplo, vou pela brandura dos nossos costumes :-) Mas garanto que tudo o que escrevi é absoluta verdade.
ResponderEliminarPois eu, apesar de não gostar de "anónimos" em geral e de anónimos comentadores em particular, não posso deixar de dar razão ao anónimo lá de cima, em detrimento da razão dos costumes de cá, brandos ou nem tanto.
ResponderEliminarNem se trata aqui de defesa do consumidor, que para isso há a DECO, mas de dotar uma crítica, estou a partir do princípio que o post se inseria no capítulo "crítica", do seu atributo maior e razão de ser, que é a consequência.
Sem a identificação do criticado, sem a quantificação do que é para o crítico pagar pouco, ou muito, pelas favas, ou quanto teriam custado os tais pastéis de bacalhau, a "crítica" desvanece-se numa dissertação inconsequente, já que o conjunto de situações descritas, dificilmente encaixam em dois restaurantes.
LPontes tem razão. O meu texto tinha como principal intenção descrever uma situação de mau profissionalismo, exemplificando com uma experiência concreta. No entanto, pode dar ideia de que é uma crítica, o que, claro, exigiria informações concretas. Não as posso dar, porque não me deu para me aperceber da qualidade do restaurante, não fiz uma amostragem da carta e, quando me servi deste caso para um comentário genérico, já nem tinha presente, por exemplo, os preços. Vou passar a ter em conta a observação pertinente de Luís Pontes.
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