domingo, 30 de janeiro de 2011

Pastéis de massa tenra (II)

Afinal, mudei de ideias, depois de evocações mútuas de infância e do gosto de tentarmos recordar e refazer memórias antigas que já não temos quem no-las transmita com inteira segurança. Como disse, temos ideia de que, em ambas as casas, croquetes e pastéis de massa tenra se faziam com os restos de carne assada, quando não apetecia comê-la outra vez da mesma forma ou quando o molho já se tinha ido.
Anote-se que “carne assada”, em ambas as famílias, tão distantes geograficamente, era de facto carne estufada, na panela. Da minha tradição, publiquei a receita em “O gosto de bem comer”, pág. 278. Quanto ao seu derivado recheio de pastéis, a ideia que temos é de que era praticamente só a carne, moída, a ficar granulada, ligada com um pouco de molho a dar sabor, e uma pequena liga de farinha e leite. "Se non è vero, è ben trovato".
À falta de informação segura, resolvemos fazer o mais simples, de que não tínhamos dúvidas, e com que também concordou um dos meus irmãos, aquele que mais longamente acompanhou a culinária familiar. A peça de vitela (alcatra) foi estufada de véspera, como descrevi no livro: a carne bem estalada em margarina dietética (devia ser óleo, mas a minha dietista é minha leitora…), acrescentada de bastante cebola aos gomos e da vinha-de-alhos em que ficou. Esta não ficou, foi decidida à última da hora, por isto levou os temperos para o estufado: alho, vinho branco, um pouco de vinagre, louro, salsa, tomilho, sal, pimenta preta, pimenta da Jamaica.
O recheio (em dose para 4 pessoas) foi simplesmente esta carne, 500 g, moída no velho moinho de carne (não na misturadora de lâminas!), embebida em 2 c. sopa do molho do assado, muito apurado, polvilhada com 2 c. sopa de farinha e bem mexida, incorporando-se depois 6 cl de leite. Parece que, na minha casa de família, quando os restos de carne já não tinham molho, se começava por saltear a carne moída num pouco de refogado de cebola picada muito fino (pouca quantidade, só a dar sabor e a engordurar um pouco). 
Claro que não se justifica todo este trabalho para fazer simples pastéis de massa tenra ou croquetes. Foi só uma brincadeira, de rememoração. Para o dia-a-dia, sugiro que experimentem o recheio descrito no “post” anterior. Como acabei por não experimentar, digam depois de vossa opinião.

Confesso que violei parcialmente a minha dieta. Já que estávamos em experiência, metade dos pastéis foram ao forno, como escrevi na entrada anterior, metade foram fritos, como manda a tradição. Os assados ficaram muito bons e recomendam-se dieteticamente, mas os fritos sempre fazem diferença!...

Nota - Dose para quatro pessoas para só duas comerem? É que já ficou recheio para outra experiência, os croquetes com a mesma lógica, de carne previamente cozinhada. Claro que o recheio vai levar pequenos ajustamentos.

2 comentários:

  1. Também a minha tradição de carne assada é realmente estufada no tacho, com uns requintes "malévolos" de caramelização do molho a deixar um delicioso tostado na carne antes de ser levantado com uma última dose de vinho branco.
    Já em relação aos picados, faziam-se a partir destes restos estufados os destinados a pastéis e empadões, de puré ou de arroz, mas para croquetes (e também por vezes para os massa tenra)usavam-se as carnes sobrantes do Cozido ou cozidas de propósito para esse fim, sendo nesse caso deixadas duras para conservarem depois de moídas (no moínho)uma fibra que texturizava o croquete de um modo delicioso, não granulado.
    Escalfei hoje dois ovos pelo seu processo "centrípeto" e fiquei fã!

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  2. Como a minha receita familiar de "carne assada" está só no livro, vou publicá-la um dia destes.

    Faltou-me falar do empadão. Tem razão, também na minha casa. Quanto aos restos de cozido, não estou certo de que talvez não servissem também para recheio. Do que me lembro muito bem é de servirem para roupa velha.

    Ainda ontem comentávamos cá em casa como seria a nossa cozinha de infância, sem frigorífico. Era assim, com variantes familiares e de ocasião: "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".

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